A arte de desaprender




"Muita coisa aprendi,
No decurso da minha vida
Mas só no fim da vida
Aprendi a arte dificílima
De desaprender...
Desaprender os erros sem conta
Que os sentidos percebem
Na sua erudita ignorância...
Aprendera ele que os fatos externos
São a própria Realidade.
Aprendera que este mundo
Que os sentidos percebem
E o intelecto concebe,
São a realíssima
E única Realidade...
E por largos anos
Andei escravizado por essa ilusão.
Pois, que admira?
Se, por tantos séculos e milênios,
Dormira a humanidade nas trevas,
Como poderia eu, em poucos decênios,
Despertar para a luz?
Até que, finalmente, descobri
A Realidade para além das facticidades,
A alma do eterno Ser
No corpo desse efêmero parecer.
Hoje sei que os fatos são meros reflexos
No espelho bidimensional de tempo e espaço,
Reflexos da Realidade,
Que está em sentido oposto
A esses fatos refletidos
No espelho de tempo e espaço.

Mas só Deus sabe quanto esforço,
Quantos sofrimentos,
E quanta agonia me custou
Essa nova atitude,
Essa meia-volta que tive de dar
Ante o espelho do mundo das velhas ilusões,
Para enxergar o novo mundo da verdade!
Esse movimento de 180 graus,
Que dei em face do refletor,
Essa conversão dos conhecidos finitos
Para o desconhecido Infinito
Me custou o holocausto do meu ego,
Esse sangrento egocídio,
Que a verdade me exigiu.

Mas agora, de costas para os fatos
E de rosto para a Realidade,
Me sinto grandemente liberto
E jubilosamente feliz
E, em vez de amar o mundo sem Deus,
Amo o mundo em Deus
Porque vejo em cada fato efêmero
O reflexo da Realidade eterna".

Huberto Rohden
Do livro: Escalando o Himalaia - Ed. Martin Claret

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