Aceitando a Mulher em mim


Primeiro aceitar o ritmo próprio, as vezes difícil de entender, especial, cíclico, de mudanças periódicas, de inícios e de finais que a obrigam a se refazer e se transformar muitas vezes. A mulher é um Ser da Natureza e junto com ela sua vida corre, escoa e desliza muito perto da essência das coisas.

Isso teria que nos ensinar que as circunstâncias externas podem ser naturalmente levadas em conta, mas as circunstâncias internas precisam também ser constantemente reconsideradas. Ser mulher começa na profunda valorização do seu corpo: muitas mulheres vivenciam o corpo como se fosse uma casa que da qual perderam a chave, algo que não é delas. Falam do funcionamento físico como um sistema que não está dentro delas...

Ainda hoje a mulher se deixa levar pelos padrões da mídia, comparando qualidades físicas, atendo-se com desespero a padrões da moda. Isso acaba por negar ou reprimir o que ela deveria mais apreciar em si mesma, o que ela própria é!

Identificar num conceito consumista seus supostos "defeitos" pessoais, é ficar presa a eles, e criar uma situação tão negativa, que parece não haver solução... Há pesquisas que indicam que ler algumas revistas ditas femininas aumentam e muito o nível de depressão das mulheres e "achata" sua auto-estima.

A sociedade valoriza o externo, o conceito abstrato: é o médico milagroso que emagrece e não a consciência de querer emagrecer; é a maquiagem que embeleza e não a expressão do olhar...

A verdadeira identidade da mulher não está no documento do RG, mas sim na consciência da sua Unicidade, Continuidade e Mesmicidade: sentimentos que partem da necessidade de se reconhecer no Espaço (com a integração do corpo), de se relacionar com o Tempo (se mantendo única mesmo com todas as experiências passadas), e de ser reconhecida pelos outros, aumentando suas relações interpessoais com constantes experimentações, transformando o mundo ao seu redor, configurando e re-definindo a si mesma, sempre.

Tentar recuperar o respeito, a dignidade e a civilidade do contato humano que andam parecendo tão raros é o que melhor expressa a identidade profunda do Feminino, e essa é a tarefa mais digna das mulheres nesse início de século.


Sonia Blota Belotti 

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