Mãe Iluminada

Me lembro de dias - não tão antigos - onde havia uma certeza plausível e metafisicamente demonstrável. Onde a verdade não variava com as circunstâncias ou com o aparecer dos fenômenos, e a segurança era estabelecida a partir de uma palavra.

Dias, onde braços abertos representavam inexpugnável abrigo contra o mundo incompreensível dos barulhos estranhos e seres ameaçadores. Vozes tranqüilas que serenavam as estações, fazendo o tempo adquirir outro significado para a consciência. Um espaço de conforto, onde lágrimas podiam ser suspensas com uma canção e dias de chuva deixavam de ser tristes porque se tinha alguém ao redor.

Estes dias que nos esforçamos para trazer da memória e que não mais se repetirão, são os fundamentos de onde tiramos a força para manter a lucidez. Especialmente, numa época onde a proteção e a dignidade parecem ter deixado de possuir um referente. Onde a mão que deveria proteger se abate sobre a inocência e quem tem esperança é chamado de pobre sonhador. Há uma saudade geral do que poderia ter sido.

Talvez, neste oceano de consumo e corações com pouca paciência tenhamos confundimos tudo e perdido a identidade. Chamei muitos pelo nome, queria olhar suas faces e eles somente mostraram os celulares. Caminhamos entre fragmentos, almas virtuais que esqueceram suas instâncias afetivas e alimentam com as sobras de seus medos, os monstros soltos pelas avenidas da ausência.

Todos querem alcançar metas e resultados, mas quão poucos lembram a intensidade do amor que tiveram e sob que murmúrio suave, um dia adormeceram. Sinto muito por todas a mães que partiram, libertas do torvelinho planetário e todas as mentes que não compreendem. Mas, as que restaram ainda são capazes de cobrir de luz bilhões de existências. Ou clamar o reparo de todas as injustiças enfrentando a pior das intempéries. Quem ainda deseja sua companhia? Ser filho novamente?

Faz falta retornar à mansuetude, desarmando as intuições, para que se possa transformar este deserto que habitamos. Causa alegria ao espírito, levar-se por inteiro e não só um mero presente. Antes que a tecnologia dos objetos, o olhar que remove quaisquer estilhaços como folhas soltas ao amanhecer. Depois, à cada assistência requerida e que cumprimos fielmente, à cada novo abraço que se oferta àquelas que nos garantiram vir a ser o que somos, resgatamos uma pequena promissória desta dívida eterna e tornamo-nos o que realmente somos. Uma ponte entre Deus e a poeira das estrelas onde cintila suavemente a Luz Humana.

Prof. Luís Sérgio Lico


Luís Sérgio Lico é Filósofo, Compositor, Escritor e Especialista em Desenvolvimento Profissional E Articulista em sites e revistas. É especializada em Palestras, Workshops & Treinamentos Organizacionais.
www.consultivelabs.com.br

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