Algumas breves reflexões sobre o feminino

Mulher
O feminino em essência é nutridor

Nutre, a mulher, com seu leite ao seu filho, a si mesma e à vida com sua intuição, com seus gestos, com sua capacidade de ouvir e de receber em si o outro, com sua fala que aquece e envolve. A nutrição é um ato de amor. Quando assim nutrimos a vida (filhos, carreira, companheiros de existência, e a nós mesmas) ela revivifica, ganha novo significado e se robustece. A competitividade exagerada que empregamos no trabalho e no cotidiano dificulta estarmos em paz com esse atributo que irá requerer de nós disponibilidade para ouvir, para ser receptivo ao outro, para dar de nós nutrição afetiva.
 



Ser feminina
Requer de nós estarmos em paz e aceitando os aspectos tipicamente femininos do nosso corpo, cuidando bem dele, com alimentação adequada, exercícios físicos apropriados, higienização necessária e levando em consideração os períodos do ciclo hormonal, que às vezes requerem de nós pequenas mudanças nos hábitos. E estar em paz com nosso corpo nos ajuda a desenvolvermos uma sensualidade e uma sexualidade mais vibrante e saudável. O corpo feminino que a mídia adora e que é vendido como perfeito, ou é anoréxico (ou quase), sem formas femininas naturalmente arredondadas, ou é turbinado com silicone - peitos, coxas, nádegas, bochechas, lábios, para ficar mais, muito mais arredondado e farto a fim de vender mais revistas, novelas, pornografia, produtos e negócios.
As mulheres que ficam fora desse padrão conseguido à base de cirurgia plástica ou com uma alimentação a base de muita água e alface, muitas vezes, passam a detestar o corpo que carregam, negando-o ou castigando-o com cirurgias desnecessárias, tratamentos estéticos caríssimos, com dietas sem propósito, ou com malhação exagerada.
O tipo de vida que a mulher do ocidente leva faz com que ela vez ou outra sinta que a menstruação a atrapalha. Existem também mulheres que chegam a se sentir doentes quando menstruadas. É também comum encontrar uma mulher que odeie menstruar, ou que sofra de TPM, desenvolva endometriose, tenha dificuldades para engravidar. Muitas retardam ao máximo a gravidez, privilegiando a carreira; a sociedade atual inclusive prega que isso é o melhor para nós. Será?

O ciclo menstrual, as marés, os ciclos lunares, as estações do ano, os ciclos de vida (gestar, nascer, crescer, amadurecer, morrer, renascer) estão todos de certa forma intrinsecamente relacionados ao feminino. Faz parte assim do sagrado da vida na Terra. Menstruar é nossa dádiva (porque é associado ao dom de criar e recriar a vida).
A mídia também vende uma outra imagem de mulher que tentamos copiar a qualquer preço, ainda que seja à base de antidepressivos, pois ela é forte, feliz, trabalha fora, tem sucesso, faz carreira, tem dinheiro, é jovem, tem filhos pequenos sadios e felizes, marido ou namorado satisfeitíssimo, amigas igualmente bem sucedidas, família, casa bonita e florida, tudo lindo, equilibrado e perfeito... (ainda que fora dos padrões da realidade viável).
Digo não viável porque não se consegue colocar o mesmo empenho necessário em coisas que nos puxam para lados opostos, como fazer carreira bem sucedida e criar filhos pequenos, de forma que cresçam saudáveis emocional, física, mental e espiritualmente. Algo não será bem resolvido, seja a carreira ou os filhos.
A mulher que hoje assume tanta responsabilidade vive cansada, às vezes mal-humorada, outras vezes sente que a vida exige demais dela, quando não é ela mesma quem se exige muito. Fica ressentida.
É essa mulher que se deprime, que sofre de ansiedade, de estresse.
Descobrir que não somos perfeitas e que precisamos de ajuda ou de abrir mão de algum encargo, digo encargo e não dever, poderá começar a nos ajudar.
 



Ser feminina
É ser intuitiva e usar essa intuição na vida comum.
Apesar de este atributo ser muito badalado, vejo que de uma forma geral usamos menos a intuição do que deveríamos, desabituadas que estamos a ela.
A intuição não é “achismo” (eu acho que), nem é julgamento ou preconceito. A intuição é uma percepção muito real e completa, não requer análise criteriosa do assunto, é um saber. Ela deve ser trabalhada, observada, para podermos usá-la com confiança em parceria com nossa capacidade de raciocinar, passando a ser benção na vida de cada um.
 



Ser feminina
E ser acolhedora. Hoje milhares de crianças pequeninas são educadas por atendentes de creches, professores, babás, enfermeiras ou empregadas domésticas (tanto faz a classe econômica). A pior parte fica para a classe mais pobre, pois, aí as crianças se criam sozinhas. Faltam-nos tempo e disponibilidade para acolher nossos filhos com a quantidade e qualidade que precisam e merecem.
Repassamos nosso dom para funcionários pagos para “ocupar” nosso espaço, já que “temos que“ ocupar outros lugares na vida.
Acolher é receber o outro e o envolver, pode ser através dos abraços e afagos, mas também da atitude de ouvir e de enxergar verdadeiramente o outro, sem pressa, entregue ao deleite do momento, pode ser também através da fala amorosa que aquece e enternece, fazendo com que o outro se sinta vivo e importante.
 



Ser feminina
É ser por natureza criativa. Criatividade que pode ser direcionada para criar filhos; criar beleza na vida; para pintar quadros; escrever poesia; costurar; bordar; conceber prédios, escrever livros, trabalhos sociais; encontrar a cura para doenças; inventar comidas deliciosas; cultivar jardins.
Através de nossa criatividade podemos acolher nossa alma e aos que estão ao nosso redor de uma forma mais bela e menos tediosa.

Feminino e masculino, atributos complementares da alma humana, um não é melhor ou pior que o outro, ambos são importantes para nosso pleno desenvolvimento como individualidades e como humanidade. Negar um atributo para robustecer outro tem sido a escolha nossa como coletividade, ao longo de séculos, mas pela gravidade das mazelas que afligem hoje a humanidade, podemos perceber a necessidade premente do resgate do feminino, primeiramente através da figura arquetípica da mãe, e por meio dela, de todas as demais. As gerações futuras agradecerão.



Texto de Thais Accioly

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